Géologie et géochronologie des domaines archéen et paléoprotérozoïque du sud-ouest de l’Amapá et du nord-ouest du Pará, Brésil, sud-est du Bouclier guyanais

Geology and geochronology of Archean and Paleoproterozoic domains of southwestern Amapá and northwestern Pará, Brazil, southeastern Guiana shield
Auteurs: 
L.T. Rosa-Costa, P.S.F. Ricci, J.M. Lafon, M.L. Vasquez, J.M.A. Carvalho, E.L. Klein, E.M.B. Macambira
Année: 
2003
Numéro revue: 
2
Numéro article: 
4

Resumo

A CPRM - Serviço Geológico do Brasil, através do Projeto Promin-RENCA, desenvolveu o mapeamento geológico em uma região de aproximadamente 33.000 km2, localizada na fronteira dos estados do Pará e Amapá, sudeste do Escudo das Guianas, norte do Brasil (Fig. 1A). A análise de informações de campo, interpretação de imagens aerogeofísicas e análises petrográficas permitiram o reconhecimento de diferentes domínios tectônicos na região, justapostos por grandes estruturas tectônicas, os quais foram individualizados por Ricci et al. (2001). Esta compartimentação tectônica é fundamentada em contrastes significativos em termos de conteúdo litológico dos complexos metamórficos de embasamento e unidades plutônicas, e em padrões geofísicos e estruturais. Neste trabalho, os referidos domínios são denominados, de NE para SW, de Domínio Cupixi (DC), Cinturão Jari (CJ) e Domínio Carecuru (DCR), e são balizados pelos lineamentos transcorrentes Cupixi e Ipitinga (Fig. 2A). Na tabela 1 são sumarizadas as características litológicas, estruturais e geocronológicas dos domínios tectônicos, e no mapa geológico da figura 2B é observada a distribuição espacial das unidades litológicas que compõem a geologia do Arqueano e Paleoproterozóico da região enfocada. Os domínios tectônicos apresentam uma direção NW-SE de estruturação dúctil, sendo que o CJ destaca-se como um domínio de maior concentração de deformação em relação aos adjacentes, contendo abundantes lineamentos radargamétricos, que representam principalmente zonas de cisalhamento transcorrentes e, em menor proporção, zonas contracionais. Os mapas aeromagnéticos também refletem o distinto padrão estrutural dos domínios em megaescala, nos quais é registrado um número significativo de anomalias magnéticas lineares no CJ, que representam os lineamentos estruturais, contrastando com um padrão magnético mais calmo nos demais. A foliação apresenta ângulos de mergulho moderados, principalmente para SW, e as lineações de estiramento mineral indicam movimentação oblíqua, com vergência para NNE (Fig. 3A). Este padrão é modificado ao longo das zonas de cisalhamento transcorrentes, onde a foliação milonítica adquire altos ângulos de mergulho, as lineações de estiramento são suborizontais e importantes feições de transposição são observadas (Figs. 3B, C e D). A assembléia de embasamento do DC é representada principalmente por gnaisses TTG de fácies anfibolito, enquanto no CJ dominam rochas de alto grau metamórfico, representadas por ortognaisses granulíticos (Fig. 4A), rochas metassedimentares granulitizadas, ortognaisses graníticos da transição anfibolito-granulito, além de gnaisses TTG e núcleos migmatíticos (Figs. 4B e C). No DCR o embasamento é representado essencialmente por gnaisses TTG (Fig. 4D) e em seu interior é reconhecido um núcleo granulítico, denominado Núcleo Granulítico Paru (NGP), constituído por ortognaisses granulíticos, hospedeiros de corpos charnockíticos intrusivos (Figs. 4E e F). Datações realizadas neste trabalho, combinadas com dados previamente publicados, indicam padrões de idades dominantemente arqueanas para o CJ, DC e NGP, e dominantemente paleoproterozóicas para o DCR (Tabelas 1 e 2, Figs. 2B e 5). As idades Pb-Pb arqueanas de 2652 ± 4 Ma e ³ 2,80 Ga, obtidas em zircões de gnaisse TTG e gnaisse enderbítico do CJ, respectivamente, indicam a atuação de dois eventos magmáticos no Neo e Mesoarqueano. As idades modelo Sm-Nd entre 3,06 – 3,1 Ga disponíveis para este domínio, indicam um episódio de crescimento crustal mesoarqueano (Sato e Tassinari, 1997). No DC, idades Pb-Pb de 2,85 Ga e ³ 2,58 Ga obtidas em zircões de gnaisses TTG e granulíticos, respectivamente, bem como as idades modelo Sm-Nd entre 2,92 Ga e 3,36 Ga (Pimentel et al.; 2002, Avelar et al., este volume), indicam um evento de acresção crustal na transição Paleo-Mesoarqueano e datam dois eventos magmáticos, aproximadamente contemporâneos àqueles identificados no CJ. Ao contrário dos domínios adjacentes, ainda não foram registradas idades arqueanas no DCR. Um gnaisse TTG forneceu uma idade Pb-Pb em zircões de 2150 ± 1 Ma. No entanto, no NGP, foi obtida a idade Pb-Pb de 2597 ± 4 Ma em zircões de gnaisse enderbítico. Esta idade, somada às características estruturais e geofísicas fortemente contrastantes em relação às áreas adjacentes, permite considerar o NGP como um inlier arqueano no DCR. Marcando a atuação da Orogenia Transamazônica na região, um importante evento magmático orogênico foi caracterizado, que promoveu a consolidação do DCR e o retrabalhamento dos domínios arqueanos. No CJ uma idade Pb-Pb de 2146 ± 3 Ma foi obtida em zircões de um álcali feldspato-granito. No DCR este magmatismo paleoproterozóico está representado pelas idades de 2150 ± 1 Ma e 2140 ± 1 Ma, obtidas em zircões de um gnaisse TTG e de um diorito, respectivamente. No NGP, um corpo charnockítico intrusivo nos gnaisses granulíticos arqueanos, forneceu uma idade Pb-Pb em zircão paleoproterozóica, mesmo não tendo sido bem limitada, provavelmente relacionada ao magmatismo transamazônico. Os dados geocronológicos obtidos neste estudo e em trabalhos anteriores permitem caracterizar um segmento crustal arqueano que se estende a partir do Lineamento Ipitinga até a região central do Amapá, intensamente retrabalhado durante a Orogenia Transamazônica. Este segmento resulta de episódio de acresção crustal na transição Paleo-Mesoarqueano e eventos magmáticos durante o Meso e Neoarqueano. As idades paleoproterozóicas obtidas no DCR sugerem que domínios similares podem existir entre a região arqueana de Carajás, sudeste do Pará, e o segmento arqueano tratado neste estudo.

Résumé

Une nouvelle cartographie géologique réalisée dans la partie SE du Bouclier des Guyanes a permis d’améliorer significativement la connaissance géologique de cette région. De nouveaux travaux de terrain associés à l’interprétation de cartes géophysiques, d’études pétrographiques et géochronologiques par la méthode d’évaporation du Pb sur monozircon, ont conduit à identifier des domaines principalement d’âge archéen et paléoprotérozoïque, séparés par des limites tectoniques majeures. Cet article expose les données géologiques qui argumentent cette division tectonique ainsi que les données géochronologiques Pb-Pb acquises sur les roches de ces différents domaines.

 

Mots clés : Archéen, Paléoprotérozoïque, Datation Pb-Pb, Domaine tectonique, Brésil, Amapá, Pará, Bouclier guyanais.

Abstract

New geological mapping in the southeastern part of the Guiana Shield has provided a significant improvement in the geological knowledge of that area. New fieldwork, accompanied by geophysical map interpretation, petrography and Pb-Pb geochronology, has enabled the identification of dominant Archean and Paleoproterozoic domains separated by major tectonic boundaries. This paper presents the relevant geological data that constrain this tectonic partitioning, as well as the Pb-Pb geochronological data obtained from rocks acquired within different domains.

Key words: Archean, Lower Paleoproterozoic, Datation Pb-Pb, Tectonic domains, Brazil, Amapá, Pará, Guiana Shield.

Dernière mise à jour le 03.08.2015